Para Flavio Morgenstern, ir para as ruas pedir a condenação de Lula é "obrigação"

  • Por Jovem Pan
  • 03/04/2018 14h13
Johnny Drum/Jovem Pan Escritor e analista visitou os estúdios do programa

Diversas capitais brasileiras receberão manifestações de grupos contra e a favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta terça-feira (3), um dia antes do julgamento de seu habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF). E para o escritor e analista político Flavio Morgenstern, convidado do Pânico na Rádio, ir para as ruas pedir a condenação do petista é “obrigação”.

“É um momento decisivo. A obrigação é estar nas ruas. O STF deve ser invocado em situações extraordinárias. Ele atua de maneira ‘politica’ com aspas. Ouve o clamor popular. Ir para as ruas significa demonstrar para os ministros e políticos qual o seu desejo. Estamos no pré-julgamento de uma das várias instâncias, o momento é crucial para o país. Se mudar a jurisprudência para proteger o Lula, acaba com o império das leis no Brasil. Para cada um vai valer uma coisa. A gente cumpre a lei, o Lula não. Isso chega no modelo venezuelano. O modelo venezuelano é uma consequência de ter uma pessoa acima das leis. Mesmo se ele não for eleito, esse processo de venezuelanização começaria agora”, disse.

Outro integrante convidado na bancada foi Claudio Tognolli. O professor concordou com o colega e foi além. “Eu dou razão a Joaquim Barbosa, relator do Mensalão. Ele defende a seguinte tese: tem que analisar não só se a Constituição foi preservada, mas também a condição do paciente (…). Quanto o Lula não está pagando de advogado? O PT prega uma igualdade social que não pratica”.

Questionado sobre o que vai acontecer no julgamento, Morgenstern disse que é difícil prever. Embora a maioria ache que o petista não receberá o HC, ele acredita que sempre pode haver alguma inesperada carta na manga dentro do Supremo. 

“Pode-se arrastar por mais tempo ainda. Um dos ministros pode sacar um bilhete da Decolar e falar que está indo viajar para parar a sessão. O negócio do PT é o poder. O PT não roubou só dinheiro, ele fez um esquema de compra de poder. Tanto que o STF quase inteiro foi indicado por ele. Poder vale mais que dinheiro. Um segue o outro (…). O STF pode acabar por se curvar ao Lula. Existe uma pressão para isso. E não acho que a culpa é do sistema. O sistema é dominado por pessoas. O Lula é o cabeça. Está no alto da pirâmide. Quando culpamos o sistema, tiramos a culpa de todo mundo”, completou.

Ainda durante a conversa, o escritor relembrou a trajetória pessoal e política do ex-presidente e analisou as mudanças que aconteceram em seu perfil de lá para cá. E, segundo ele, a imagem de “proletário que cresceu na vida” não faz mais sentido.

“O Max Weber define uma forma de poder que nasce do carisma. O Lula era essa figura. Ele foi construído. Perdeu eleições, era sindicalista, ‘Lulinha paz e amor’. Até que foi eleito e continuou com a roupagem ‘paz e amor’. Conseguiu ser uma figura com muito carisma, conseguiu poder assim. O esquema de poder do Lula ia da Bolívia à Líbia. Toda aquela turma”, afirmou. 

“Mas muita coisa mudou. O PT antes mandava e desmandava. Hoje não. Desde 2014, quando a Dilma foi eleita e estourou o Petrolão, não é assim. O partido não tem mais aquele apoio popular. Existia um mito no Lula operário, tinha todo um simbolismo. Isso foi rompido. A proposta dele hoje não é Bolsa-Família ou universidade, é controlar a imprensa e as redes sociais. É a única coisa que ele fala. Acabar com a liberdade de expressão. Esse discurso só funciona para a própria militância. A única proposta é acabar com os coxinhas”, opinou em seguida, finalizando seu discurso com uma pesada constatação. “A Nova República brasileira acabou. O que virá, a gente não sabe. Eu não sei. Só sei esse diagnóstico”.

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